terça-feira, 28 de junho de 2016

‘O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos’ lança catálogo no Recife

Projeto foi motivado pela existência de fichas de artistas pelo DOPS/PE entre os anos de 1934 e 1958 

Projeto contou com incentivo do Funcultura e gerou trabalhos inéditos a partir de investigação no acervo do DOPS/PE 

Criado a partir de um conjunto de fichas de artistas que foi produzido pela Delegacia de Ordem Política e Social de Pernambuco (DOPS/PE) entre os anos de 1934 e 1958, o projeto O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos lança catálogo no Recife nesta terça-feira (28). A ocasião vai contar com palestras do professor e historiador Durval Muniz de Albuquerque Junior e da curadora Gleyce Heitor, que apresentará as três propostas artísticas desenvolvidas a partir de uma convocatória lançada no final de 2015: Vaga de Irma Brown, de Moacyr Campelo (PE), Folhetim dos Encontros, de Juliana Borzino (RJ) e Teta Lírica, de Marie Carangi (PE). O evento será realizado no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje), a partir das 19h, com entrada aberta ao público.

“Uma pergunta que sempre norteou nossa pesquisa é o porquê dessas pessoas serem fichadas. E o que constatamos é que não foi por ideologia, e sim porque eram vidas que não se adequavam ao padrão que a sociedade esperava. Os dois primeiros transformistas registrados como artistas no Brasil, por exemplo, foram fichados pelo DOPS/PE. Outro dado interessante é que 60% das fichas são de mulheres, muitas delas que tinham hábitos que não se encaixavam no conceito ‘recatada e do lar’”, explica Clarice Hoffman, uma das coordenadoras d’O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos.


Imagem do Recife durante o período que o DOPS/PE iniciou o fichamento dos artistas 

Com incentivo do Governo de Pernambuco, através do Funcultura, e contemplado pelo programa Rumos, do Itaú Cultural, o site do projeto também vai receber outros conteúdos nesta nova etapa. Já estão disponibilizados no local, por exemplo, artigos dos pesquisadores Alexandre Figueirôa e Marcília Gama, que tratam respectivamente do panorama das diversões públicas e do seu controle entre 1930 e o final da década de 1950 no Recife, bem como o controle político e social exercido pela DOPS/PE no período.

“Temos percebido que o site é bastante acessado por pesquisadores, que o utilizam como fonte de informações. Devido a essa demanda estamos em busca de outros financiamentos para que o projeto siga em frente com outras ações”, comenta Clarice Hoffman. Além dos artigos, serão inseridos no endereço eletrônico uma nova cartografia do Recife, feita a partir das informações registradas nos fichários, bem como a publicação de dezenas de novas resenhas, e a disponibilização das obras artísticas criadas a partir da convocatória.

Ficha de funcionário do Cassino Império, que funcionava no centro do Recife 

Um dos resultados que também foi gerado a partir deste projeto é um ensaio do historiador Durval Muniz de Albuquerque Junior, publicado no site e no catálogo que será lançado no evento. O texto faz uma reflexão sobre as motivações que levaram a Delegacia de Ordem Política e Social de Pernambuco a fichar tais artistas. O autor também sugere cinco possíveis cartografias para a cidade do Recife, criadas a partir da documentação da DOPS/PE que aponta para redes e territórios pouco conhecidos na história da cidade.

Exibidas virtualmente no site, as Cartografias das Delícias, Artes, Nomadismo, Paranoia e Política apresentam narrativas visuais e interativas da cidade do Recife, possibilitando aos visitantes do site acesso a imagens e informações sobre locais e eventos existentes entre os anos 1934 e 1958, assinalados em um mapa de 1952 e ilustrados por fotografias do Museu da Cidade do Recife.

Sobre o Projeto

O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos é um projeto cultural elaborado e motivado pela existência de um conjunto de fichas produzido pela Delegacia de Ordem Política e Social de Pernambuco (DOPS/PE) entre os anos de 1934 e 1958, com registros da passagem pelo estado daqueles indivíduos vistos e nomeados como artistas.

Das mais de mil fichas que compunham esse conjunto, apenas 403 foram conservadas e encontram-se, desde 1991, sob a salvaguarda do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE). São indícios da vida de mulheres e homens, brasileiros e estrangeiros, protagonistas de uma movimentação ocorrida na cidade do Recife, no campo da arte e do entretenimento, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, que lançam luz sobre uma potente história cultural e política do estado e do país.

Serviço

Lançamento do catálogo d’O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos
Terça (28) | 19h
Apeje (Rua do Imperador, 371, Bairro de Santo Antônio)
Gratuito

Saiba mais sobre as obras artísticas criadas a partir da convocatória:

Vaga de Irma Brown e Moacyr Campelo (PE)
O trabalho composto por vídeos, fotografia, perfomance e intervenção urbana. Foi idealizado com base no mapeamento dos espaços existentes na cidade do Recife fichados pela DOPS/PE, entrecruzando passado e presente, evidenciando ruínas e resistência. Ao subjetivar os lugares, os contextos e os ambientes do Recife, a proposta apresenta a cidade como a grande protagonista.

Folhetim dos Encontros, de Juliana Borzino (RJ)
A artista entrecruza ficcionalização e arqueologia, criando um folhetim inspirado por aquele outrora distribuído pela loja de seu bisavô pernambucano, a Livraria Mozart. Diversamente ao folhetim da livraria, dedicado a grandes personagens e eventos da cidade, em seu Folhetim dos encontros, Borzino vai ao encontro de uma cidade fantasmática, experimentada por entre momentos de coletividade e recolhimento. Sua narrativa soma-se a uma iconografia que contrapõe pesquisa em arquivo e produção de imagens, relacionando história pública e familiar como história da cidade.

Teta Lírica, de Marie Carangi (PE)
Conjunto de vídeos, performances e fotografias nas quais a artista produz som a partir do movimento de seus seios em frente a um teremim. Sua performance, que se dá em espaços cênicos em desuso da cidade (como um coreto e uma concha acústica), articula-se com as práticas e modos de vida de alguns artistas apresentados em O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos a partir de uma poética do corpo e da subversão.

fONTE: Cultura.pe



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